Barrakaloka

Blog de Publicidade, Arte e Debate Social

Saturday, April 01, 2006

O Milagre da Multiplicação de Doutores

Tournou-se um negócio algo prolífico e lucrativo no nosso burgo e arredores. Universidades, institutos politécnicos e outras insituições de cariz idêntico nascem como cogumelos. O acto quase que divino de atribuição de um diploma, confere a estas instituições um poder exacerbado sobre uma questão delicada - A ainda frágil e debilitada realidade do nosso sistema nacional de educação.

Não coloco inteiramente em causa a qualidade do nosso ensino superior pois temos de facto casos de orgulho e sucesso, no entanto, a facilidade com que se tem vindo a estruturar cursos e programas é algo duvidosa. Coloco sim em causa, a autoridade que gere e que dita as leis, pois essa sim, deveria estar mais preocupada em rever o seu trabalho de bases.

Neste país não temos escolas primárias, nem livros e nem professores que cheguem, mas aparentemente não devemos estar preocupados pois temos doutores! Sem dúvida aos montes, com "d" minúsculo ou maiúsculo, são todos membros orgulhosos de uma nova dinastia, uma nova classe neste país. Para onde quer que nos viremos, lá está um especialista, um senhor do conhecimento pronto para emproadamente exibir o seu título. Não nos preocupemos com a obra feita, mas sim com a aparente e sacramentada elevação do licenciado a doutor. Este status é promovido maioritariamente pelas instituições privadas que de certa forma revolucionaram o ensino superior e não só. É no ensino privado infelizmente, que encontramos os maiores problemas. As pesadas propinas, geralmente em moeda estrangeira, são quase sempre suficientes para garantir salvo conduto para o "clube dos doutores".

Tive no outro dia, o prazer de auxiliar na avaliação de duas turmas de um determinado curso de comunicação. Se por um lado me surpreendeu o nível de alguma percentagem dos alunos, continuo convencido que na esmagadora maioria, estes cursos não foram estruturados para preparar os seus alunos para a verdadeira realidade do mercado. Pude observar que os alunos que melhor se sairam, foram aqueles que já possuindo relativa experiência prática, conseguiram melhor assimilar a teoria de almanaque oferecida no curso. É com enorme apreensão que ao conversar com alunos bem avançados de um curso superior, me deparo com o fraco conhecimento prático das vicissitudes da sua área de escolha.

Quer tudo isto dizer que determinada instituição, ao decidir inaugurar um novo curso e seleccionar o seu quadro de educadores, não terá tomado em conta as reais exigências do programa e do mercado. Não me passa pela mente, que quem de direito não tenha a responsabilidade suficiente de congregar as poucas entidades capazes existentes no país, com o auxílio do ministério, de modo a melhor desenhar o seu programa e mais eficazmente definir as suas possibilidades e necessidades. As instituições não devem estar minimamente preocupadas com o facto de serem os mesmos quadros que são insuficientemente preparados nos seus cursos, que mais tarde se tornarão eles próprios formadores, dando origem a um provável cíclo de insuficiencia. Felizmente são já algumas as excepções à regra. Existem nestes cursos, professores que atravéz de uma experiência pessoal adquirida e de uma correcta administração de carrreira, vão enriquecendo e vitalizando os programas. Mas é evidente que este mérito não pode de todo ser atribuido às instituições.

Gostaria de assistir a menos "doutouradas", mas visto que num mercado emergente como é o nosso, devemos tentar sempre louvar e investir no que de positivo se faz, vergo-me a esse espírito, pois ainda acredito no desenvolvimento deste país por mais utópico que isso pareça.

12 Comments:

Blogger Nkhululeko said...

E quando se deixa de ter nome próprio e passa-se a chamar «Dr»? («Aqui fala o dr...»; «Muito prazer minha senhora...eu sou o Dr...»). À ostentação de títulos, merecidos ou não, acrestaria outros ícones que vão floreando os srs drs: fatos, gravatas, anéis robustos, pulseiras de ouro...ah, já me esquecia dos sapatos envernizados. A forma é cada vez mais importante.
Olha, são as utopias que nos movem. E ainda bem...

10:10 PM  
Blogger Alex Cardoso said...

Ivan,

Conheço-te razoavelmente bem para saber das boas intenções que tens. Mas, já conversamos n vezes sobre isto. Repito que tens razão em muito do que dizes, só que, de facto, reafirmo o que te disse nas n conversas (e vai de acordo com muito do que diz o jpt):

- Sempre é melhor teres "mais ou menos" do que não teres nada (principalmente na nossa área de trabalho).

É nessa linha que deves seguir o teu raciocínio, penso eu de que.

Um abraço do
DR. Alexandre Cardoso

11:55 PM  
Blogger bookishbeauty said...

Hello Ivan,

Cute blog! Are you an artist? What kind of art do you make? I'm a student from the Netherlands, this is my blog:
http://www.bookishbeauty.blogspot.com/

Cheers

bb

10:57 PM  
Blogger Kafé Roceiro said...

Gostei muito do seu blog. Convido-te para ir lá na roça comer um pão-de-queijo com um café passado na hora! Se gostares e tiveres interesse é só dizer, pois terei prazer em linká-lo no Kafé. E ficaria feliz em ser linkado aqui na sua casa também!
Kafé Roceiro (Brasil) – Blog de humor, cinema, piadas, charges, citações e muita mulher bonita!

10:32 PM  
Anonymous Anonymous said...

Dr.Alexandre Cardoso,
Não creio que certo estejas,ao afirmar melhor teres "mais ou menos" do que não teres nada.Não estará o Sr.Dr.num proceso de "comodismo conformado?" comparo esta tua visão,ao dito popular qdo aquela mulher que apanha do marido afirma:"não posso deixa-lo,melhor com ele,que sem ele".O Ivan está certíssimo,é preciso uma mudança urgente e radical em nossas Instituições Educacionais."Deixemos cair, pois ,o status de "DR"...troquemos este pelo saber DR!

7:09 AM  
Blogger Kafé Roceiro said...

Estarei linkando você lá no Kafé. Abração.

4:29 PM  
Blogger Kafé Roceiro said...

Linkadaço!

6:51 PM  
Blogger Kafé Roceiro said...

Acho que não deveria existir essa estória de Doutor, Meritíssimo, Bugalhíssimo, etc..
Somos todos iguais.

6:53 AM  
Blogger Mauricio said...

Olá,

Navegando do Brasil até Moçambique vim parar por aqui!

Parabéns pelos textos e pelo blog.

Um abraço carioca.

4:09 PM  
Blogger Ivan Serra said...

Muito agradeço o seu comentário caro Mauricio e já agora dos outros visitantes do Brasil, país que apenas tive o prazer de visitar uma vez...mas que para sempre ficará na minha memória.

Um abraço maputense!

2:08 PM  
Anonymous Anonymous said...

Entro tarde no debate sobre "a multiplicação de doutores". Acho que é preciso multiplicá-los mais ainda para o bem da nossa sociedade. É preciso multiplicar também os engenheiros, os técnicos médios, básicos,...é preciso requalificar os camponeses, os trabalhadores do "informal"...tudo isso é preciso. É preciso um verdadeiro "empowerment"!
A formação boa e com qualidade pode ser um importante catalisador de desenvolvimento em todas as areas importantes para a sociedade moçambicana.
Não me importo muito que os doutores usem os títulos universitários para se distinguirem dos demais membros da sociedade. Essa é uma questão de carácter de cada um!
O mais importante é que sejam competentes no seu trabalho e que se apliquem afincadamente em prol do desenvolvimento do nosso país.
Sem futurismo, deixem-me, desde já, arriscar que, num futuro muito próximo, o que contará será a competência e não unicamente o título. A nossa sociedade tende a ser mais competitiva e não bastará o título universitário. Será necessário acrescentar-lhe muita competência. É assim que se movem as sociedades pelo mundo fora. Não nos preocupemos com a multiplicação de doutores
Abraço
Carlos Bavo

11:58 AM  
Blogger OFICINA PONTO E VIRGULA said...

Oi Ivan, por aqui cheguei via Diario de um Sociologo, um dos blogs mais visitado no mundo ate agora. A questao das Universidades, doutores e um fenomeno que deve ser visto com olhos cientificos. Ainda esta na moda chamar de dr. alguem que nao e dr. porque fez licenciatura. Normalmente doutor deve ter o grau do PhD o que Mocambique e outros paises como Brazil adoptaram "erradamente ou convencionalmente errado" o licenciado como dr. ain da aser venerado, ate o latoeiro que tem muito dinheiro e doutor.
Termino dizer que admiro as tuas abordagens, e eu abordei essa tematica no meu blogspot quase a um mes.

Abracos de Mussa Raja

12:50 AM  

Post a Comment

<< Home