Barrakaloka

Blog de Publicidade, Arte e Debate Social

Monday, February 27, 2006

As "Mamas Digitais"

Que o sexo vende bem sempre se soube. Que a sugestão de sexualidade ou sensualidade vende bem, também sempre se soube. Nunca imaginei foi ver uma das maiores marcas da nossa praça, fazer uso dessa velha fórmula na sua última campanha de publicidade.

Fiquei perplexo e paralisado ao olhar para o primeiro outdoor colocado em plena 25 de Setembro. Chamem-me puritano se quiserem. Confesso que não me importo mesmo nada de comtemplar um belo e atraente decote. Aprecio igualmente alguma publicidade que faça uso da sexualidade de forma propositada, inteligente e contextual. Neste caso infelizmente, lamento ser forçado a deplorar a forma deslocada e sem absolutamente sentido algum, com que a nova TV Cabo Digital se apresenta ao mercado.

Acreditem que me esforçei por, de forma imparcial, fazer algum senso das imagens. De um lado lemos um Slogan sem sabor e próximo do informativo “Agora a TV Cabo é Digital”, e do outro uma beldade descaradamente insinuada com o peito dando mostras de claustrofobia. Francamente banal! Se usarmos do mesmo raciocínio para o Comercial de TV, derrapamos na mesma brilhante fórmula, desta vez descaradamente reencenando a famosa cena da perna cruzada de Sharon Stone em Instinto Fatal. Não me quero sequer interrogar de quais as mentes brilhantes que orquestraram tamanha obra de arte. Neste caso, a agência deve ter sido o espelho do cliente e vice-versa.

Após extenuante análise, esforçei-me a fundo por fazer uma relação entre a imagem e as respectivas mensagens. Lembrei-me das espectaculares campanhas da Multichoice e simplesmente...deixei-me suspirar. Sabendo nós, que os conteúdos oferecidos pela TV Cabo são exactamente os mesmos que os da DSTV, porque não tentar seguir o exemplo e fazer algo com sabor local e original? Que tem uma bronzeada desmamada a ver com mais desporto, mais internet ou mais qualidade? E já agora, que tem isso de digital?

Mais brilhante ainda, é podermos redescobrir a velha fórmula dos anos 60 em que algum iluminado achou que podia vender qualquer coisa, bastando para tal colocar uma mulher ao lado do produto com um sorriso plástico e alguma nudez. Na altura foi tal a novidade e coincidindo com a revolução sexual, que disparou uma novo género de publicidade. Nos últimos tempos, essa velha arte foi sendo refinada de modo a servir um público bem mais exigente e por demais exposto à sexualidade. Quem diria que voltariamos às origens de forma tão óbvia.

Temo que estamos na presença de um novo movimento renascentista deste género. Tudo terá começado com outra brilhante campanha intitulada “Eu Quero o Amarelo” (na Av. Marginal) e cujo seguimento, de tanga à mostra e tudo, já se pode observar no mesmo local, mas com uma marca de Whiskey diferente. Pois é meus caros, para quê o brainstorm quando temos o copy & paste?

Friday, February 17, 2006

Os Valores Da Paróquia

Cresci no seio de uma família de professores, onde a crítica, a sátira e a ironia faziam e fazem parte da forma de estar na vida. As verdades absolutas são para mim castelos de cartas. O meu pai, rato de biblioteca, viveu a vida toda sob o lema "só sei que nada sei"...dito por um filósofo do qual não me recordo o nome, mas por via disso, eu e os meus irmãos crescemos com a permanente sensação que nunca estavamos à altura da sua exigência. Lembro-me que o meu irmão que se esgotava a estudar, chegou um dia a casa com um sorriso desmedido e um orgulhoso 19 rabiscado a vermelho no teste, e esbarrou num olhar de desprezo pois tinha faltado um valor para satisfazer o velho. Eu que que não me dava a tanto, escondi os testes responsáveis pela minha única reprovação à sexta classe, por baixo do colchão. Digamos que desejei ter o mesmo tratamento mas acabei por receber a resposta em nódoas negras.

Radical e dura adolescência, vós outros dirão, mas foi também amor que recebi numa relação de equilíbrio. Aprendi que a sabedoria tem que ser conquistada e atravéz dela ganhamos respeito. Cresci a questionar tudo em meu redor e retirei prazer no acto de experimentação e erro. Lêr o Clube5, brincar numa árvore, coleccionar insectos, cair de uma bicicleta, andar à guerra do torrão, etc (para citar apenas alguns exemplos), ensinou-me muito mais do que qualquer jogo da Playstation 2.

São valores que hoje se perdem, a sabedoria que nesta sociedade os pais conferem aos filhos, não passa de um acto de pura inércia. Sujeitamos os nossos filhos a aprender a vida nestas pseudo-escolas com pseudo-professores e ainda pagamos milhões por isso. Acomodamo-nos na ideia que quanto mais cara for a escola, menos temos de nos preocupar. Precisamos de uma revolução de mentalidades a todos os níveis. Já o meu pai dizia..."vivemos numa paróquia", numa aldeia onde todos se conhecem e onde o quintal do vizinho se torna a manchete do dia!

Num país com 18 milhões de habitantes e com grande parte deste número a morrer à fome, temos informação para todos os gostos. No Maputo9, lemos que Leonardo DiCaprio esteve no Las Brasas a comer camarões e a beber Boshendal. Folheamos as revistas Noiva ou TVZine e deliciamo-nos com os pormenores rodeando o casamento de MC Roger. Abrimos qualquer outro honroso pasquim e sabemos tudo sobre o Concurso do Bikini ou sei lá...

Todas as sociedades possuem o seu lado fútil, mas esta não faz mais do que viver dele!