Tournou-se um negócio algo prolífico e lucrativo no nosso burgo e arredores. Universidades, institutos politécnicos e outras insituições de cariz idêntico nascem como cogumelos. O acto quase que divino de atribuição de um diploma, confere a estas instituições um poder exacerbado sobre uma questão delicada - A ainda frágil e debilitada realidade do nosso sistema nacional de educação.
Não coloco inteiramente em causa a qualidade do nosso ensino superior pois temos de facto casos de orgulho e sucesso, no entanto, a facilidade com que se tem vindo a estruturar cursos e programas é algo duvidosa. Coloco sim em causa, a autoridade que gere e que dita as leis, pois essa sim, deveria estar mais preocupada em rever o seu trabalho de bases.
Neste país não temos escolas primárias, nem livros e nem professores que cheguem, mas aparentemente não devemos estar preocupados pois temos doutores! Sem dúvida aos montes, com "d" minúsculo ou maiúsculo, são todos membros orgulhosos de uma nova dinastia, uma nova classe neste país. Para onde quer que nos viremos, lá está um especialista, um senhor do conhecimento pronto para emproadamente exibir o seu título. Não nos preocupemos com a obra feita, mas sim com a aparente e sacramentada elevação do licenciado a doutor. Este status é promovido maioritariamente pelas instituições privadas que de certa forma revolucionaram o ensino superior e não só. É no ensino privado infelizmente, que encontramos os maiores problemas. As pesadas propinas, geralmente em moeda estrangeira, são quase sempre suficientes para garantir salvo conduto para o "clube dos doutores".
Tive no outro dia, o prazer de auxiliar na avaliação de duas turmas de um determinado curso de comunicação. Se por um lado me surpreendeu o nível de alguma percentagem dos alunos, continuo convencido que na esmagadora maioria, estes cursos não foram estruturados para preparar os seus alunos para a verdadeira realidade do mercado. Pude observar que os alunos que melhor se sairam, foram aqueles que já possuindo relativa experiência prática, conseguiram melhor assimilar a teoria de almanaque oferecida no curso. É com enorme apreensão que ao conversar com alunos bem avançados de um curso superior, me deparo com o fraco conhecimento prático das vicissitudes da sua área de escolha.
Quer tudo isto dizer que determinada instituição, ao decidir inaugurar um novo curso e seleccionar o seu quadro de educadores, não terá tomado em conta as reais exigências do programa e do mercado. Não me passa pela mente, que quem de direito não tenha a responsabilidade suficiente de congregar as poucas entidades capazes existentes no país, com o auxílio do ministério, de modo a melhor desenhar o seu programa e mais eficazmente definir as suas possibilidades e necessidades. As instituições não devem estar minimamente preocupadas com o facto de serem os mesmos quadros que são insuficientemente preparados nos seus cursos, que mais tarde se tornarão eles próprios formadores, dando origem a um provável cíclo de insuficiencia. Felizmente são já algumas as excepções à regra. Existem nestes cursos, professores que atravéz de uma experiência pessoal adquirida e de uma correcta administração de carrreira, vão enriquecendo e vitalizando os programas. Mas é evidente que este mérito não pode de todo ser atribuido às instituições.
Gostaria de assistir a menos "doutouradas", mas visto que num mercado emergente como é o nosso, devemos tentar sempre louvar e investir no que de positivo se faz, vergo-me a esse espírito, pois ainda acredito no desenvolvimento deste país por mais utópico que isso pareça.